segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Destruição para a construção


Um carro sendo destruído por uma pedra. Pedra, biologicamente falando, elemento rígido, cinza. Humanamente falando, impassível, apático.
Carro, máquina feita por humanos, tão bom, nos locomove, tão mal, poluí, mata, gera transito, que gera stress, que gera graves doenças.
Pedra, elemento de salvação.




Mas quem é o carro? O individuo que o conduz. Se fosse uma pedra sobre uma pessoa seria uma imagem chocante, mas Jimmie Durham já choca só de destruir o carro. Ainda mais para os amantes de automóveis.
Mas essa ação é um start para pensarmos essa máquina criada por nós, e assim como o avião um outro tipo de meio de transporte, que era para ser apenas um meio de nos fazer ir e vir com mais facilidade se transformou  em um meio de fazer guerra, um meio de gerar a morte.
Essas como tantas outras coisas que poderiam ser usadas apenas para o bem e virou uma arma na mão das pessoas.



Será que tais instrumentos terão que ser exterminados literalmente ou eles podem simplesmente serem usados para aquilo que foram projetados.
É apenas uma questão de simplificar as coisas e tornar a vida muito melhor.



Barco. Outro meio de transporte que o homem corrompeu, explorando os mares e rios da forma mais grotesca possível. Acabando com a natureza, acabando com a vida, acabando consigo mesmo.
Essa pedra de olhos e boca mostra uma pedra meio humana, sim, vamos ser os lançadores dessas pedras e romper com essas destruições.







Nesse caso é uma mesa que está sendo destruída. É claro que não se trata de uma mesa de boteco, de plástico, mas sim uma mesa de estilo clássico, da alta sociedade.
Outro objeto que serviria simplesmente para nos alimentarmos, e virou um objeto de status e de poder. Uma forma de quem tem um alto poder aquisitivo poder se diferenciar dos mais desprovidos.
Sendo assim outro paradigma que deveria ser destruído.
Penso que Jimmie Durham não tem a pretensão de destruir objetos, pois eles são tão efêmeros diante da complexidade de suas reações e sim conceitos que já estão ultrapassados. E nós em pleno século XXI ainda damos valor a coisas tão pequenas e que só geram guerra e que geram a destruição humana. Por trás desses objetos quebrados há pessoas destruídas.
Pessoas que são assassinadas pela guerra e pela bomba de um avião, pessoas que são assassinadas por um carro que tem um inconseqüente dirigindo, pessoas que são escravizadas pelo trabalho e que morrem aos poucos para um burguês jantar em uma mesa de luxo.
Matamos pessoas diariamente.
Vamos destruir esses conceitos e reconstruí-los de forma humana.

Filá.












quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Rupturas de corpo, de gênero, de sexo.


Quando eu vejo esse homem nu, que é Egon Schiele em um dos seus auto-retratos, penso em uma sociedade menos machista, em que ao contrário do senso comum não se trata de uma mulher nua, com seu corpo exuberante dito pelo povo de "gostoso", em que se mostra um corpo seguido pelos padrões de beleza, seios fartos, barriga reta, nádegas carnudas, pernas enchutas, rosto delicado, cabelos longos e preferencialmente loiros.
Ao contrário de tantos requisitos vejo nesse auto-retrato uma quebra de tabus, em que vemos um homem magro, não malhado, como a ditatura da beleza nos impõem. E um homem nu, em que há tanta repulsa pela nossa sociedade em exibir o natural. Simplesmente corpo, o mais belo atributo humano, que sente, fala, reproduz, transa, luta, dança, interpreta, que simplesmente trás vida sobre si.
Não vejo sensualismo nesse auto-retrato e sim um rompimento, rompimento que ele incitou na década de 1910 e até hoje, sobretudo hoje são válidas para nossa sociedade machista, moralista, preconceituosa e entre tantas intolerâncias.


Esse é um outro auto-retrato de Egon Schiele e como tantos outros mostra um tipo de ser dentre tantos seres que temos dentro de nós e tantas máscaras que temos de vestir.
Temos que ser felizes, simpáticos, educados, elegantes, bem vestidos e assim seguimos vestindo máscaras, máscaras que podem estar dentro de nós ou que temos que procurar exteriormente, pois nos é exigido e se você não está disposto a seguir essas exigências será taxado pela sociedade do espetáculo.


Nessa obra que se chama Conversa, vejo mais ainda a expressão do corpo. E em uma conversa está muito presente a expressão de nossos corpos, com sinais, expressões, movimentos. E assim temos que descondicionar nosso corpo que é sempre muito mais voltado para a sensualidade que para a expressão e então efetivar esse atributo e usá-lo para tal forma de comunicação.


Aqui há uma forte expressão da sexualidade, mas não de forma vulgar e pejorativo, mas sim novamente mostrando a naturalidade das ações e necessidades humanas.
Como é belo o entrelaçar dos corpos e o efeito causado pelo ato sexual, de prazer, de amor, de amizade.

Esse é Egon Schiele pintor expressionista que foi preso em 1912 "por ter difundido desenhos imorais" e de sua cela ele escreveu "Criar obstáculos a um artista é criminoso".


Filá.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Exposição Dengo de Ernesto Neto

Ao entrar em um museu e me deparar com várias redes cheias de bolinhas coloridas, penduradas pelo teto e poder abraçá-las, balançá-las, alem dessas coisas meigas também tive vontade de chuta-las, mas houve um freio da instituição, o chute não para estragar, mas para simplesmente sentir com o pé.
Ver vários instrumentos musicais parados e esperando para ser tocados pelo público, instrumentos de variados estilos, desde piano até pandeiro.
 Estar ali, ver cores que contrastam com meu dia-a-dia preto e branco em São Paulo, estar lá e poder ouvir qualquer um, sem nem precisar ser famoso tocar um instrumento, e até mesmo eu, até sem saber tocar nada poder fazer um batuque, vou até me subestimar  e dizer que fiz uma música por que não? Quem determina o que é ou não uma música? 
 Nossa e os chocolates, balas e guloseimas, quer coisa mais propicia para adoçar sua vida?
Mesmo não os sentindo com o paladar, o olhar sobre esses doces nos faz ter lembranças de momentos de degustação dessas delicias e mesmo não acontecendo ali naquele momento só a lembrança já foi saborosa.
 Estar em um museu e me jogar em uma piscina de bolinhas, descondicionando meu corpo que vive sentado em uma cadeira na sala de aula e me fazendo lembrar da minha infância.
Infância. Devagar sobre a infância que hoje é usurpada pelo mercado das crianças que acabam querendo ser adultas, magras e sensuais, e sonham com suas profissões e não mais em voar, ser uma fada ou um herói.

 Deitar numa piscina de bolinha e relaxar, até mesmo dormir como fez um homem que estava ao meu lado.
Olhar o video de uma cena almejada diariamente pelos trabalhadores do mundo a fora, a imagem de uma praia com um homem abrindo um coco para se tomar sua deliciosa água.
Todas essas sensações podem nos fazer refletir sobre coisas esquecidas e que passam despercebidas em nosso dia tão corrido e cronometrado, e que não nos permite pensar sobre coisas tão simples.




 Essas sensações podem me fazer questionar o porque eu trabalho muito e viajo pouco, e logo não tomo a tão suculenta agua de coco.
Além dessas questões e questionamentos há uma ruptura sobre a instituição museu em que muitas vezes nos oprime e silencia,  mas opostamente me fez  ver, agir e sentir coisas tão diferentes.



Tem também as carteiras que me faz pensar a educação e tentar descondicioná-la igualmente. Todas elas em formato de gatinhos coloridos, tão criativa e inovadora. Contrapondo nossa realidade em que as escolas, em especial as de rede pública  que parecem mais presídios, pintadas de cinzas e que não tem nada de criativo e inovador.
Só faz de seus alunos robos, preparando-os para o mercado de trabalho.
Depositando sobre eles informações e não os fazendo pensar, falar, agir e criar criticamente. Sendo apenas reprodutores de um suposto conhecimento.



Essas são uma das inúmeras questões que podem surgir em nossas mentes ao visitarmos uma exposição de arte.
Questões que não devem ser apenas pensadas, comentadas, devagadas e sim serem urgentemente tratadas.


Filá.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A "escolha" tão feita mas tão suspeita

Bom seria se o trabalho fosse uma escolha em que poderíamos optar entre sim, ir trabalhar, e não, não ir trabalhar.
Mas para isso o trabalho teria que ser diferente. Se fosse como é hoje, em que as pessoas se vem como escravas do trabalho, em que nossas vidas se baseiam nele, passamos 8 horas de nosso dia nos dedicando a ele e quando voltamos nosso suposto tempo de ócio acaba se tornando uma continuação do tempo de trabalho, em que acabamos tendo que descansar para o próximo dia. É muito esforço que se faz, e o que ganhamos com isso?
Nada, essa é a verdade, aliás ganhamos muitas coisas, como a depressão, o stress, síndromes, câncer, tudo isso por conta de querer transformar o homem em máquina. E se você não está disposto há quem esteja e você será descartado.
Se continuasse sendo assim, é claro que todos optariam por não trabalhar e todos morreriam de fome pois nosso sistema não permite isso.
Mas para que tudo isso fosse diferente e trabalhar fosse até mesmo um ato de prazer, as pessoas teriam que fazer aquilo que gostassem, seria uma continuação de suas práticas de hobbie e nem veríamos como trabalho.
Será que isso seria possível? Já sei, antes que chegássemos nesse estágio que seria um estágio bem perfeito, uma grande evolução seria se nos dias de hoje, cada um com o seu trabalho fosse bem remunerado. E que não houvesse a "mais-valia", em que um dia de trabalho paga seu salário e o resto de seus dias de trabalho é o lucro do empresário.
Se assim fosse o trabalho automaticamente poderia se tornar prazeroso, pois assim você se sentiria bem retribuído pelo que faz e isso lhe traria prazer. Haveria um tempo efetivo de ócio, para as pessoas poderem pensar, sim, criticamente na vida, no sistema, no além, seja no que for, tempo para práticas culturais.
SIM, isso é possível, precisamos chegar nesse estágio em que os lucros são justamente divididos e que as pessoas são tratadas como humanas e não como máquinas.
Vamos lutar para que isso seja uma realidade e não uma utopia.
E enquanto isso não se efetiva vamos tomar cuidado com a escolha suspeita.


Filá.


Imagem do artista Carlos Zilio.